28 maio 2014

CRÔNICA: HABEMOS COPA, TORÇAMOS ENTÃO


Por Douglas Menezes* (Cabo de Santo Agostinho, 26/05/14)

Continuo fazendo parte daqueles que acham que Copa do Mundo deveria ser realizada sempre em países bem resolvidos econômica e socialmente. Aquelas nações em que o povo come bem e vive melhor ainda. Onde saúde, educação, infra estrutura e segurança deixaram de ser problemas há muito tempo. Mas o Campeonato Mundial de Futebol aqui na terra é fato consumado. Nada mais a fazer. Aliás, como os governantes, os que não querem o evento chegaram atrasados nos protestos e na luta pela não realização, igual às obras intermináveis do governo. Sete anos, pelo menos, de defasagem. Agora, Inês é morta, embora constatemos, também a apatia das pessoas, até agora, com relação ao torneio

Resta torcer para que não haja vexames espetaculares ou fatos que contribuam mais ainda para a imagem negativa do país lá fora, embora, também, não sejamos a favor da ocultação de nossas mazelas, jogá-las para debaixo do tapete. O que acho, simplesmente, é que o fracasso, ou não, da copa não irá acrescentar muita coisa em relação ao nosso presente, nada respeitado junto à comunidade mundial. Soube, inclusive, através dos jornais, que muitos países europeus procuram, através dos meios de comunicação, estimular seus habitantes a não virem ao Brasil, por motivos óbvios. No entanto, a perspectiva, segundo o governo e parte da imprensa, é que tenhamos aqui, em torno de um milhão de estrangeiros. Indicando que os conselhos não foram bem recebidos pelos gringos apaixonados pela bola. Gostam de viver perigosamente.

Revolta latente por conta dos gastos exorbitantes, negados pelo governo, é preciso, nesse momento, arrefecer os ânimos, ter maturidade suficiente para entender que o erro cometido ao sediarmos uma copa do mundo, ainda mais com o nível de esperteza de parte dos envolvidos na história, não terá consertos nesse momento. É esperar que alguma coisa fique como legado, poucas que sejam e possamos ver a bola rolar com tranquilidade nas arenas superfaturadas, ouro em pó, e, mais ainda, não elevarmos o futebol a um nível tal de valor que esqueçamos a consciência da continuação da batalha por dias melhores, menos corrupção, vida mais digna para a nossa gente. Torçamos pelas duas coisas, como nas nações civilizadas: habemos copa.


(*) Douglas Menezes é professor,
torcedor do Santa Cruz, poeta
e membro da Academia Cabense de Letras.

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