20 junho 2009

Da Série: MANCADAS HISTÓRICAS


Não sei se o leitor se lembra, mas o Glorioso chegou muito próximo de falir a casa da Barbie. O título mofado nunca esteva tão em risco quanto naquele ano. E o pior... no ano do centenário Timbu. Na nossa diretoria, um presidente-vampiro com uma falsa campanha "em time que está ganhando não se mexe". No final sugou não só o sangue, mas também a alegria, o prestígio e todo um ano.

Mas nesse ano um episódio chamou atenção e refletiu o quão desastrosa seria a campanha do Sport naquela temporada. O Caso HUGO BENJAMIM.

Abaixo segue o artigo (na íntegra) do desabafo do HUGO. Com boas passagens pelo leão.

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Fonte: BLOG DO TORCEDOR

O preparador físico e técnico de futebol Hugo Benjamim não está atuando no mercado brasileiro. Mas não esquece o esporte que aprendeu a amar. Como também não esqueceu a forma que foi demitido do Sport há exatos oito anos.

Para a quem não lembra, Benjamim assumiu o Sport no Campeonato Pernambucano de 2001, substituindo a Levir Culpi (ENTREGADOR DE CAMISA), que não resistiu no cargo após o time rubro-negro ser derrotado pelo Central, por 1x0.

O Leão lutava pela conquista do hexacampeonato estadual e o então presidente Luciano Bivar apostou em Hugo Benjamim para levar o time rubro-negro à conquista do título, igualando a marca do rival Náutico.

Mas eis que após uma vitória por 7x1, coincidentemente em cima do Central que causou a demissão de Culpi, Benjamim foi surpreendido com o anúncio da sua demissão.

Abalado, o treinador deixou a Ilha do Retiro, literalmente, pelas portas do fundo e a pé. A cena foi registrada pela Rede Globo.

Depois de oito anos de silêncio, Hugo Benjamim enviou ao Blog do Torcedor detalhes da sua última passagem pelo Sport, que, pelo visto, não saiu da sua cabeça.

Artigo:

2001, O ANO QUE O SPORT NÃO QUIS SER HEXA (por Hugo Benjamim)


"'Bom dia,Hugo!.Aqui quem fala é Luciano Bivar. Você trabalharia para o Sport ?'"

Eu respondi brincando: ontem.

Como era 28 de maio, recebi o convite como mais um presente de aniversário do dia anterior. Apresentei-me no seu escritório sem saber ainda qual função exerceria no clube. Após ser recebido pelo presidente, com sua saudação habitual e carinhosa de "velho companheiro", já que havia trabalhado outros anos no clube, entre eles em 1990,campeão brasileiro da Segunda Divisão, sendo eu, naquele momento ainda preparador físico e Roberto Brida, o técnico, enquanto Luciano, o próprio presidente.

A conversa já se arrastava há uns 40 minutos, mas antes que terminasse o primeiro tempo veio a proposta de ser técnico do time profissional e se eu aceitaria o desafio. Está certo que já havia treinado o Náutico antes disso, outras equipes do Recife e também campeão paraibano pelo Botafogo, mas a proposta me pegou de surpresa. Afinal, o Leão trabalhava sempre com "figurões", haja vista que naquele momento eu estaria entrando no lugar de Levir Culpi . Aceito a proposta, fomos para outra sala, onde se encontravam ex-presidentes, conselheiros, diretores e o gerente de futebol Adelson Wandeley.

"Senhores, este é o novo técnico do Sport", foi logo apresentando Bivar.
No seu discurso de apresentação, disse entre outras coisas que ninguém conhecia mais o futebol de Pernambuco do que eu e que representava para ele, naquele momento, sua última bala (seria a que matou Kennedy ?). Fiz depois uma breve apresentaçao já que ali todos me conheciam e de imediato, como minha primeira atitude, pedi que o estádio não fosse fechado para a imprensa e nem para os torcedores do Sport, medida que estava sendo adotada naquela hora.

"Presidente, não vou assumir o clube neste clima de discórdia. Vou dar um crédito de confiança à imprensa e aos torcedores e vou pedir apoio a ambos para que eu possa desenvolver um trabalho em paz". Foi isso que eu falei ao presidente.
O presidente ligou para o clube no sentido de anular a tal medida que entraria em vigor naquela tarde. Do outro lado, uma voz insistia em dizer que a medida deveria permanecer, ao ponto de Luciano Bivar afirmar: "É ele quem quer. É responsabilidade dele (minha)".

À tarde,conversei com a imprensa ,ainda alguns absortos com aminha contrataçao, pois esperavam um nome de maior impacto. Coisas da nossa terra, provincianismo.Em seguida foi a vez dos torcedores. Entreguei os jogadores aos preparadores físicos e me dirigi para as sociais onde tentei falar mas de imediato não foi possível diante de tantas perguntas e indagações.Após alguns minutos pude falar:

"Senhores, assim como vocês eu sou pernambucano e sei bem o momento que o Sport.passa. Já perdemos o primeiro turno e a primeira partida do segundo turno (Central1x0), mas o caminho para o hexacampeonato ainda está vivo e eu quero a ajuda de todos, pois só assim seremos vitoriosos".

Dei as costas e fui para o centro do gramado, quando ouvi, emocionado, um grito de guerra entoado pelos torcedores do Sport. O tradicional "Cazá! Cazá!". Estava selada, por enquanto, a paz para se começar um trabalho em paz."

"Começando o trabalho propriamente dito, era de estranhar, diante da qualidade apresentada pelos jogadores (Sidney, Axel, Valdo, Rodrigão, Rodrigo Gral, Eduardo Marques, Leonardo, Ricardinho, Bruno Quadros, entre outros), que aquele time não rendesse o suficiente para ter uma colocação melhor no campeonato. Logo,após dois dias de trabalho, caiu a ficha quando os jogadores não desceram e nem colocaram o material de treino. Peguntei o motivo e veio a resposta: grana.


Salários em atraso e insatisfação generalizada, ao ponto de eu ter que chamar a diretoria para dar uma satisfação a todos. Era uma segunda-feira e ficou acertado o pagamento para a quarta. Todos treinaram com afinco e dedicação. Na quarta, repetiu-se o mesmo clima da segunda. Os atletas não tinham recebido pela manhã e se recusavam mais uma vez a treinar. De novo, a direção foi acionada e desta vez para pior. Disse um dirigente: "não tem dinheiro e nem previsão de pagamento. Quem quiser, treina. Quem não quiser, passa na diretoria e resolve sua situação".


Reuni o grupo e fui sincero, dizendo que iria para o campo de treino e que entenderia quem não fosse até porque ninguém é obrigado a trabalhar sem receber. Os jogadores pediram para ficar a sós e eu acatei. Passados alguns minutos, para a minha alegria e alívio, todos vieram para o campo. Axel pediu permissão para falar pelo grupo.


"Professor, chegamos a conclusão que o melhor para o grupo é não pararmos. Vamos treinar, jogar e ganhar e dar um tapa de luva na diretoria. Além disso, neste pequeno espaço de tempo que o senhor nos comandou deu para sentir que temos um homem correto e competente nos ajudando".


A partir daquele momento, o time foi realmente outro e as vitórias começaram a acontecer. Meu período no Sport foi muito curto, infelizmente. Assumi no dia 28 de maio e deixei o clube no dia 17 de junho. Deixei um Sport em condições dignas da sua rica história e ainda com esperança de ser hexa. Primeiro lugar na tabela, o artilheiro da competição (Rodrigo Gral), a defesa menos vazada e o melhor ataque .O que eles queriam mais?


Na fátidica semana quando fui "maravilhosamente" apunhalado pelas costas, fizemos dois jogos excelentes, que não me saem da memória. O primeiro, numa quarta-feira, contra o Porto, na cidade de Bonito, onde sair dali com uma vitória não era nada fácil, vencemos por 4x0. Leonardo voltou a jogar seu verdadeiro futebol, fazendo dois gols. Era dia do seu aniversário.

Detalhe interessante: Leonardo, ao chegar a Recife vindo de Teresina, fui o encarregado de ir buscá-lo no Tip, pois naquele momento era o supervisor das categorias de base do Sport. Tínhamos uma boa amizade, que dura até hoje, e quando assumi o profissional, ele não poupou esforços para me ajudar .


No jogo seguinte, o último sob meu comando, contra o Central, na Ilha do Retiro, num domingo de muito sol e com a torcida prestigiando já que vinhamos bem no campeonato. Nesta semana ,vale ressaltar, o espírito de solidariedade de um atleta que jamais esquecerei.Vou ao caso: Leomar, tinha acabado de chegar do Japão (onde foi defendere a seleção), e todos queriam vê-lo jogando. Fiz uma reunião com os jogadores do meio-de-campo titular e disse que, por justiça, não mudaria ninguém para Leomar jogar, pois vínhamos de uma grande vitória contra o Porto, na qual nosso meio de campo tinha atuado de forma exemplar.


Para minha surpresa, Valdo pediu a palavra:

"Professor, vamos descascar este abacaxi conosco. É melhor botar o homem para jogar, que ele tá precisando de apoio."

"Mas, como?", questionei.

Disse ele: "No meu lugar."

Impressionante a humildade de Valdo naquele momento. Foi marcante.Valdo entrou no segundo tempo e ainda fez o seu.

Voltando então ao meu último jogo. Vencemos o Central por 7x1. Ao final da partida, fui avisado por Adelson Wandeley que a diretoria queria conversar comigo. Lá, no próprio vestiário, ao ver as duas "peças" que me aguardavam, já senti que coisa boa não seria. Não eram classificados. Náo perteciam ao primeiro time, ou seja, pau mandado. Não deu outra. Bola pra frente, que a vida continua.

Obrigado Sport por um dia ter me dado o previlégio de ser seu comandante. Mágoas, já se foram. Não sou homem de guardar ressentimentos.Sempre acreditei como professor de educação física que o esporte foi feito para se fazer grande e boas e amizades. Sei que consegui, humildemente. A torcida rubro-negra tenha a certeza de que, enquanto fui comandante da equipe, me dediquei ao máximo. Aqueles que me ajudaram ,comissão técnica o meu recnhecinento e a imprensa de uma forma geral. Pelo Sport tudo... ou quase tudo. "


"Começando pelos (i) responsáveis da notícia. Ainda dentro do vestiário o gerente Adelson Wanderley, após eu ter dado entrevistas aos repóteres, me comunica que a diretoria queria falar comigo.


Existia uma sala dentro do vestiário própria para reuniões . Encaminhei-me a mesma, entrei e o que vi não gostei. Desconfiado através do meu sensor de intuição que é poderoso senti que as duas figuras alí presentes não dariam nenhuma boa notícia.


Otávio Coutinho e Marcos Amaral eram reservas da diretoria, não jogavam no time principal, portanto, não iriam falar sobre contratações e nem reforços.Que ironia, Otávio, peladeiro que fazia zaga comigo no time do Arte da Torre, nos anos 60, alí na minha frente, todo-poderoso, encheu o peito e mandou que eusentasse. Agradeci, mas continuei em pé.

E ele falou:

"O Sport sente-se grato por tudo que você fez até hoje. Mas, a partir de agora, temos outros planos e dentro deste planejamento você estáfora".

O já falecido Eurico Amaral, tradicional diretor do clube, se sentiria envergonhado de ver o seu filho, Marcos Amaral, como testemunha ocular de uma das cenas mais covardes ocorridas contra um profissional que tem uma história rica dentro do futebol pernambucano e que, por onde passou, sempre zelou entre outras coisas pela ética, palavra até então desconhecida pelos dois ali na minha frente.

Ainda em pé, passou pela minha cabeça levantar o tampo da mesa em cima dos dois. Era de vidro e o estrago seria grande. No entanto, ainda em tempo, voltei a lucidez e ao homem pacífico que sou até hoje. Sem uma pergunta ou palavras, já que achava que os dois não eram merecedores, retirei-me do local. Fui ao estacionamento do clube, tirei meus pertences de dentro do carro e devolvi as chaves ao fucionário Ugiete, ex- zagueiro tricolor e que foi contemporâneo de bola, quando eu fui campeão de juniores, em 1969, pelo Náutico.

O carro havia sido entregue pelo clube para eu me movimentar, já que o meu tinha sido vendido no dia que assumi oSport. Foi o diretor Fernando Pessoa que me fez a gratidão do automóvel. E eu disse para Ugiete que voltava para casa como havia ali chegado: a pé."

"Saí do estádio sem noção de hora, do tempo, de nada. A pé ,caminhando e soluçando, cabeça a mil. Rua deserta, domingo, já noite. O telefone não para de tocar, era a imprensa querendo notícias e eu sem poder falar, entalado entre soluços e lágrimas.

Continuo caminhando, como um zumbi. Já cansado, faço um "pit stop" no lugar mais adequado para o momento: um bar, era o Flor de Jucá. Entrei, o restaurante estava meio vazio. Pedi 2 chopps, o garçom não entendeu nada. O primeiro desceu num gole só,ligeirinho, meio amargo, não recomendo a ninguém cevada com lagrima.

O tempo passa , o telefone chamando. Aí me lembrei que tinha família e amigos. Fui para casa, atendi a imprensa às 22 horas. Dois dias após, internamento num hospital. Crise hipertensiva ,angústia,depressão etc...Um dia de molho foisuficiente.
Sei que o clube tem todo direito de contratar e de dispensar no meu caso encontraram a pior maneira, um absurdo,sacanagem explícita, amadorismo em alto grau. Estavam entregando o hexa.

Bivar, nunca mais vi e nem ouvi. Nenhuma satisfação.

Já Adelson Wanderley preferiu se esconder. Sabia de tudo e, pelo grau de amizade que tínhamos, não custava tanto ter me dado um toque. Guardaria segredo. Não foi à concentração no sábado e esquivou-se no dia do jogo, um domingo. Teria sentido menos o impacto da dispensa, iria preparado para o final. Pior, me evitou na entrega dos troféus na festa do Lance Final. Ia cumprimentá-lo. Evitou-me evitou, esquivou-se, sumiu na multidão.

Neste mesmo ano, em 2001, o Sport caiu para Segunda Divisão, Luciano Bivar entregou o cargo e Fernando Pessoa assumiu. Meu sucessor não foi feliz , Júlio Cesar perdeu partidas sucessivas e o Sport de vez entregou o tão sonhado hexacampeonato estadual.

Ao grande Silvio Pessoa, figura honrada do Sport exemplo de desportista. Aos meus sobrinhos Beto, Rodrigo e Luciano doentes pelo o Sport, perdão, sadios pelo Sport. Pelo Sport tudo. Ou quase tudo."


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Não conhecemos pessoalmente, mas o Hugo Benjamim sempre parece ser um cara correto. Nunca foi o treinador dos planos, sempre megalómanos, do seu Luciano Bivar, mas é um cara íntegro. Nunca esquecemos desse episódio. E por ver que tem muito torcedor de memória curta enaltecendo essa diretoria caça-níquel, achamos importante manter essa memória acesa para não vermos nosso Sport numa situação dessas novamente.


Como torcedores rubronegros, os que fazem o FUTEBOL e outras besteiras sabem diferenciar um time vencedor de um time que vive de um passado remoto. E temos a certeza que um clube grande (ou um grande clube) se faz com homens honrados e de palavra.

E não foi o que aconteceu.

Essa nova diretoria tem erros sim (vide a primeira edição do Troféu Agora Pronto e alguns de nossos posts), mas tem muitos acertos, dentre os quais PLANEJAMENTO para o presente e o futuro.

O Sport (apesar da rejeição sulista) deixou de ser um clube franco-atirador, para se tornar um adversário respeitado e, porque não, temido. Principalmente aqui na Ilha.

Bons ventos ao estilo "administração responsável" dos que fazem a nova diretoria rubronegra. Assim tem que ser. Sempre.





Luciano Bivar, nunca mais!

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